A Saga de Guilherme, o Príncipe Negro. Parte XI
O
Retorno do Rei sobre a Colina dos Bruxos
Agora há que se contar que uma
mudança inimaginável vinha ocorrendo na mente do rei Guilherme. Durante a
jornada de volta, seus gestos com Annabel tinham assumido uma secura. Ele trocava
poucas palavras com seus companheiros. Ao chegar no Castelo dos Reis sobre a
Colina dos Bruxos. Guilherme ordenou que Cipião de Valais redigisse um Édito
Real convocando todos os alquimistas, astrônomos, e mestres na tradição de
todos os reinos conhecidos do mundo, para que eles compartilhassem com ele,
todo o seu conhecimento quanto aos segredos do universo. Especialmente, os
segredos tangentes às artes mágicas ocultas. Desde a sua chegada, debruçou-se
fervorosamente sobre o acervo de livros da Torre dos Cronistas do Reino. Requisitou
a presença do ancião Seth e, de seu pupilo Tracius. Estudou atenciosamente
todos os imensos tomos de livros da Tradição do reino. Passou a gastar
incontáveis horas do dia no estudo das artes ocultas. Com o tempo, o sábio Seth
começou a temer a ânsia obstinada do monarca, assim como notou uma maldade
camuflada num semblante taciturno, que cada vez mais ia incrustando-se no
caráter do Rei Negro. As questões diplomáticas, os assuntos quanto ao Tesouro
Real, nada mais atraía a atenção do monarca. Apenas os imensos livros
empoeirados recebidos pelos antigos alquimistas, eram capazes de atrair a sua
atenção. Annabel de Liz, de longe, sofria com a mudança imprimida na
personalidade do seu esposo. Ela passava a mão em seu ventre, e pensava no
filho que estava esperando. O tempo tinha passado, ela quase havia perdido a
criança durante seu cativeiro na Floresta dos Trolls, mas agora, ela tinha
pleno conhecimento de que o mal estava dentro de sua casa, pois Guilherme tornara-se
um homem sorumbático e de hábitos noturnos, cada vez mais sinistros.
Então, Cipião de Valais
convocou um Conselho Real com o já distante Guilherme. Na reunião de fins governamentais,
Tito Lívio, agora recém empossado Marechal do Rei, e, Caio Marco, recém
investido Chefe da Guarda Real, debateram cautelosamente as medidas que deviam
tomar ante o avanço da horda de povos bárbaros que ameaçava, novamente, as
aldeias fronteiriças ao Sul do reino de Guilherme. Deveriam estimar os gastos
com o orçamento de uma campanha punitiva contra as hostes inimigas, assim como
devia especular a respeito das conseqüências de uma guerra no período de
inverno que vinha se aproximando. No entanto, o que mais preocupou os
burocratas do rei, foi o crescente retraimento de Guilherme. Este vinha
adotando hábitos cada vez mais reclusos, devido aos já conhecidos e mal
falados, estudos das artes ocultas. Disse Tito Lívio, o Marechal:
- Convoquemos Vossa Majestade
para esse Conselho, pois sua palavra é de grande importância e, sua temperança
deve nortear nossas decisões.
- Mandarei agora um subordinado
meu chamá-lo. – Falou Caio Marco, o Chefe da Guarda do Rei.
- Esperemos a decisão final do
rei, meus confrades. – Sentenciou Cipião de Valais, Conselheiro do Rei.
Um soldado do séquito real foi
até a Torre dos Cronistas do Rei. Lá, bateu respeitosamente na porta do prédio,
depois anunciou a mensagem convocatória de Tito Lívio. Aborrecido, porém,
resignado, Guilherme compareceu ao Salão do Conselho. Ficou a par de toda a
situação, e disse:
- Esses homens do Sul, tem
desafiado a minha autoridade, desde um longo tempo. Não mais, irei tolerá-los. Tito
Lívio, arme o nosso exército de cavaleiros e infantes. Quero marchar diante
desses chefes tribais até o crepúsculo de amanhã. Sei que iremos ter que
imprimir uma marcha desgastante, mas essa será a campanha final contra essas
hordas vis! – Ao dizer isso, Guilherme deixou um riso insano e cruel invadir sua
face lívida e cansada devido as inúmeras noites em claro. Secretamente, ele
iria aplicar os seus estudos de magia macabra na batalha contra os bárbaros. Ao
retornar para o seu aposento, disse para a esposa que iria partir pela
madrugada. Annabel sentiu um profundo desgosto nas palavras do rei Guilherme,
mas viu que não podia oferecer nenhuma oposição. Apenas disse:
- Tu tens escolhido caminhos
nebulosos. Aonde tu vais caminhando, minha proteção, minhas orações, nada pode
alcançá-lo, ou protegê-lo. Não sei que marca a feiticeira pôs em ti naquela
noite, mas não te esqueças de que és um rei honrado. Não deixe esse
conhecimento pervertê-lo.
A batalha contra as hordas
bárbaras do Sul
Sob o céu crepuscular, os
exércitos digladiaram-se, impiedosamente. Atrocidades que, durante a guerra são
cometidas pelos homens, vieram à tona naquele dia maldito. Corpos eram
perfurados. Cavalos tinham suas patas decepadas. Homens tombavam com o corpo
coberto de flechas. Por três vezes, as tropas de Tito Lívio foram recuadas pela
infantaria de bárbaros armados com longos machados de combate. Mas Guilherme,
com seus Homens em Armas, vinha ao auxilio do seu marechal. Porém, as hostes
inimigas estavam em maior número e, se não fosse a maestria tática de Tito Lívio,
munido ao ímpeto obstinado de Guilherme, o exercito do Rei Negro teria
sucumbindo naquela batalha sangrenta.
Os bárbaros, em sua maioria,
tinha o grosso de seu exercito formado por homens vigorosos e corpulentos
armados com machados longos, e uns poucos, com machadinhas de arremesso. Entretanto,
a maior inovação dos chefes tribais, tinha sido a adoção do eficaz e mortal,
arco longo. Enquanto uma barreira de infantes armados com lanças afugentava a
cavalaria de Guilherme, os arqueiros disparavam chuvas letais de flechas. Matando
grande parte da tropa do Rei Negro. Foi ao constatar que os bárbaros tinham evoluído
suas técnicas de combate, que Tito Lívio chegou a propor a fuga de Sua
Majestade, o Rei Guilherme. Mas Tito Lívio desconhecia o trunfo de Guilherme
guardado para aquela batalha.
A batalha nas pradarias do Sul
já estava chegando ao fim do dia, durando quase um dia de embate atroz, quando Guilherme,
proferindo orações ancestrais em línguas dispares do idioma geral do seu povo,
invocou uma grande massa negra de corvos assassinos. Enquanto permanecia em
transe, entoando cânticos de sonoridade áspera e cavernosa, o bando de corvos
lançava-se odiosamente sobre as hordas dos bárbaros, arrancando os olhos dos
homens. Então, quando tinha se passado meia hora dos ataques das aves, enorme
alcatéia de lobos selvagens apareceu nas planícies onde estava ocorrendo a
batalha. Os soldados de Guilherme recuar, temerosos das forças ocultas
invocadas pelo seu suserano. Tito Lívio comandou o recolhimento das tropas, pois,
tanto o bando de corvos, como os lobos, vinham atacando os soldados de Guilherme.
Não fazendo distinção entre aliado e inimigo.
Ao fim, as hostes de bárbaros
foram sobrepujadas pela arte oculta do Rei Negro. Entre os feridos, muitos
soldados temiam cruzar, ou até olhar o rei Guilherme que, agora estava cansado
e fatigado devido as canções de poder proferidas durante a batalha. Temendo um
motim, ou a deserção em massa, Tito Lívio despachou um enorme contingente de
soldados feridos para que voltassem até suas aldeias. Os que ficaram, eram os
homens de caráter mais tenaz, homens de confiança do próprio Tito Lívio. Estes,
formaram a escolta do rei rumo ao Castelo sobre a Colina. Porém, não antes de
empalar os corpos dos inimigos, e de decapitar as cabeças dos chefes tribais,
tendo que levá-las como espólio de guerra. Tudo isso fora ordenado, friamente,
pelo rei Guilherme. Havia um sorriso sádico e maldoso na face do rei, poucos
sabiam os desígnios que aquelas cabeças teriam nos seus estudos macabros no seu
laboratório alquímico. Talvez isso explique o desfalecimento da rainha Annabel
de Liz ao ouvir os relatos nefastos sucedidos com seu esposo.
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