O prisioneiro no poço





Era inútil o modo como aquele prisioneiro olhava para o enorme buraco sobre sua cabeça em busca de uma vã esperança. Ele estava dentro de um gigantesco poço vazio. Do alto ele via os pássaros, pensava na liberdade, lembrava que não iria sair daquele confinamento. Só lhe restava uma morte lenta, certamente iria definhar aos poucos. Aczib, era o seu nome. Fora jogado ali devido às conspirações malogradas contra o rei Booz, soberano das estepes. Um nobre, um barão sentenciado à morte no poço da desolação por crimes políticos era algo incomum. Mas agora que estava ali, apenas ouvia o barulho do canto dos pássaros ao longe. Solidão, um silêncio inquietante rompia a sua sanidade aos poucos. Aczib podia sentir que sua vida estava agora entregue ao nada. Então, pensou consigo mesmo. Os pensamentos brotavam de sua mente de modo difuso:
“De tudo o que fiz na vida. Nada fez sentido...”
“Mas que mania é essa de querer ver algo de grandioso em tudo que se faz?”
“É que o homem é entregue aos devaneios do espírito”
“Sim. E olhe bem até onde esses delírios de grandeza te trouxeram. Estás jogado num poço... totalmente privado do direito de ir e vir...”
“Vivi e morrerei pelos meus ideais!”
“Antes tivesse vivido pelo ouro... ideais não enchem barriga, não sustentam o homem!”
“Porém são necessários à existência do homem. Esse ser pensante”
“E pedante, vil e torpe, diga-se de passagem...”
“Ora, mas por que insistes em me atormentar? Sei que lutei por uma causa perdida, mas tudo valeu a pena”
“Tolices”.
Enquanto Aczib delirava. Uma sentinela apareceu na borda do poço e gritou:
- Você só tem que desistir! Desista agora de tudo! – e jogou um punhal para que o prisioneiro se cortasse se autoimolasse.
Porquanto Aczib fosse um idealista, um romântico sujeito a estapafúrdias, cortou a garganta com o fio do punhal sem cerimônias. Do alto. A sentinela viu o sangue jorrar na terra negra. Indiferentemente, disse a outra sentinela: - Desistiu. O próximo turno é seu.

Do céu, os abutres esperavam o corpo do prisioneiro para que se banqueteassem soberbamente.




Sua alma era vazia como um poço sem fundo. Como se fosse um inútil, mergulhou no poço em busca do nada”.







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