A caçada de Beemot.
O Sol Negro
na terra dos reis cegos: o conto do jovem Beemot – relatos de tempos imemoriais.
Beemot segurava fremente sua
lança de madeira com ponta de pedra lascada enquanto colocava ou, ao menos,
tentava colocar seu espírito naquela ação que se sucederia nos instantes
subsequentes. Beemot, o jovem guerreiro do clã da Serpente Emplumada, deveria
matar um chacal desgarrado de seu bando para que provasse sua maturidade diante
de todos os membros do seu clã. Não obstante o furor da juventude, o ímpeto que
impelia o jovem guerreiro a sua caça; Beemot temia errar a pontaria da lança,
temia não conseguir cravar a ponta da lança no peito do chacal que, de modo
indolente, dormia embaixo de uma árvore decrépita, exposto a uma emboscada ou
qualquer outra peripécia do destino aos seres viventes. Era tarde, o sol cor
púrpura derramava seus raios sobre a floresta, o que ajudava nosso jovem
caçador a ficar oculto por entre as folhagens da densa floresta tropical.
Então, após uma breve elucubração que mais parecia uma eternidade, Beemot
enrijeceu os músculos do seu braço direito, fixou os dois pés no solo até
manter uma base segura sobre o chão arenoso, e, num átimo, com o corpo
retesado, arremessou a lança rumo ao chacal cinzento. Após ulular de modo
hediondo, o que afugentou as aves que estavam na copa das árvores das
redondezas, a besta, ferida de morte, lançou um olhar ao seu redor em busca do
seu algoz. Porém, camuflado pelo raio púrpura do sol, Beemot, tal qual a sombra
da morte encarnada, viu a vida da fera sucumbir. A lança fora cravada nas
costas do chacal com vigor, de modo que retirá-la causou uma certa resistência.
Após constatar a morte do animal, Beemot foi até a vítima e decepou a cabeça da
fera.
Por cinco dias e cinco noites,
o jovem caçador vagou pelas florestas úmidas e chuvosas até chegar às
imediações do seu clã. Ao pisar na sua aldeia, seu cachorro, com a perspicácia
dos animais, correu ao seu encontro com uma voracidade inigualável de um velho
amigo. Naquele mesmo dia do regresso do jovem Beemot, em que ele contava dezesseis
verões, uma fogueira com um gordo javali foi assado em sua honra. Agora que
havia completado o rito de passagem, seu pai, Barduc, chefe do clã, poderia
cingir o filho com as cinzas guardadas dos antigos líderes do seu povo. Fora completado o rito de passagem.
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