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Machado de Assis escreveu que “o menino é o pai do homem”. Pois bem, interpreto essa frase como a ideia de que na criança ou no adolescente, há o germe do que será o homem adulto. São nesses anos de formação, que se absorvem as experiências, os traumas etc. Lembro que eu comecei a me sentir um adolescente lá pela quinta série. Na época eu estudava no Colégio D. Pedro II, uma escola de bairro, na Cohama. No começo dos anos 2000, era uma escola de classe média baixa, era como se fosse um Reino Infantil ou Crescimento acessível para os filhos e filhas da classe média emergente. Estudava de manhã, na realidade, sempre estudei no período matutino, pois segundo minha avó materna, em sua visão de pedagoga aposentada, era o melhor horário para assimilar o conhecimento ensinado em sala de aula. Especulações à parte, foi na quinta série que eu comecei a me interessar por aranhas. Não consigo entender como exatamente surgiu esse interesse pelos aracnídeos, mas foi um tempo em que eu foq

Sobre laranjas e o passado

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  Natureza morta com cesta de laranjas. Van Gogh. De uns tempos para cá, voltei a ouvir mais o que as outras pessoas tem a dizer. Cada um com suas estórias, suas vivências. Confesso que gosto de ouvir os relatos da minha avó materna Marise, especialmente sobre o meu bisavô, o sr. “Cici” de Castro, como ela gosta de se referir a ele, toda orgulhosa. Foi numa dessas, após eu acabar de comer o meu almoço, enquanto eu ia até o jardim da casa, que ela começou a contar uma dessas estórias do meu “biso”, o Cici de Castro. Enquanto eu me sentava, à sombra do alpendre da casa, entre espadas de São Jorge e samambaias, descascava uma laranja de cor meio amarelada. Após chupar a laranja, eu disse: - Essa laranja não estava lá essas coisas... Ao ouvir isso, minha avó disse: - Laranja boa eram aquelas que papai trazia de Pedreiras. Lembro que ele trazia umas sacolas de couro abarrotadas delas. Como ele trabalhava de coletor de impostos, as pessoas no interior davam laranjas de presente.

Não mude o seu cabelo por mim

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  Não mude o seu cabelo por mim Mantenha-se igual Porque tu não és um quadro para mim Mas uma natureza viva Não mude o seu cabelo por mim Mantenha-se igual Porque hoje à tarde vamos andar de bicicleta na praia Vamos pedalar até onde o sol se põe Comer uma casquinha de sorvete E vou amá-la Não mude seu cabelo por mim Mantenha-se igual Porque eu gosto quando passo os dedos entre os seus fios vermelhos E nada mais me importa Porque eu sou um bobo por você Não mude seu cabelo por mim Mantenha-se igual E iremos sentar num banquinho de frente para praia A brisa marítima esvoaçando o seu cabelo Seus lábios salgados pela maresia E assim irei beijá-la Mas por favor Não mude seu cabelo por mim.     Poesia escrita enquanto eu ouvia Chat Baker...

Velho

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  Lembro-me da sua caminhonete cor vinho, escrito “chevrolet” na parte de trás. Meu avô e esse carro eram meio que figuras indissociáveis, algo que marcou minha memória no final dos anos 90. Ele tinha o hábito de lavar o carro todo domingo. Costumava estacioná-lo em cima da calçada lá de casa, e passava a limpar a sua “D20”. A lembrança que ficou é a do seu hábito de dobrar as pontas da calça, de modo a deixar os seus calcanhares longos e magros expostos, no estilo cômico de “pega marreco”; enquanto dobrava os punhos de sua camisa de tecido, manga longa. Esse era o cuidado que o velho tinha para que não molhasse a roupa, afinal, depois disso ele teria outros afazeres. A estória do meu avô com esse carro me ajuda a tentar entender, ou mesmo recordar como era a sua vida naquela época. Quando eu passei a ter consciência dos fatos ao meu redor – e aqui escrevo com base em supostas lembranças de um eu de 6 ou 7 anos de idade –, o cenário em que eu via meu avô era o de decadência, uma cert

No jardim do meu coração

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  Para ti eu plantei uma flor, No jardim do meu coração, Nos dias de sol, ela resplandece em vivacidade e brilho, Sua cor avermelhada aviva o meu coração, afaga a minha alma, Nos dias nublados, ela se retrai, então, eu cuido ainda mais dela, Ponho-a num solo novo, rego-a com água nova, amo-a ainda mais, Pois no jardim do meu coração, eu plantei uma flor, Vermelha.

Breves considerações sobre "Da democracia na América", do autor Alexis Tocqueville.

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  Inicialmente, é oportuno traçar breves considerações sobre o autor Alexis Tocqueville, destacando suas origens e o contexto histórico em que ele redigiu a “Democracia na América”, como sendo uma forma de melhor compreensão daquilo que se almeja responder. Tendo sido um historiador e   analista político francês, Tocqueville era de origem nobre, oriundo de família aristocrática que foi favorecida pelo reinado dos Bourbon, e que sobrevivera às intempéries da Revolução Francesa,   tendo sua família sido exilada junto   com o rei Carlos X, na Inglaterra, logo após a Revolução de Julho de 1830, que havia posto fim às intenções conservadoras do Congresso de Viena – surgidas no pós-guerras napoleônicas; tendo Tocqueville permanecido na França. Assim, o então jovem Tocqueville, a mando do governo francês, recebeu a missão de viajar até os Estados Unidos junto com Gustave de Beaumont, para avaliar o sistema prisional da jovem nação estadunidense. Foi nesse contexto, que o historiador franc

Nota sobre o final da graduação.

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Nos idos de 2014, quando ainda cursava história, e havia alcançado um bom rendimento em termos de nota no curso, decidi recomeçar o curso de direito do zero. Parecia – e ainda hoje parece – um grande salto, ao estilo “tudo ou nada”, afinal, eu já não era mais um recém-saído do ensino médio, e, à época, já sabia que alguns colegas de escola e outros contemporâneos, já estavam prestes a se formar. De modo que, um sentimento de angústia, proveniente da escolha drástica de recomeçar do zero um curso que havia me causado um profundo mal-estar, pareceu-me, como ainda me parece ser, uma escolha audaciosa. O fato é que eu retornei ao curso de direito em 2015, na Universidade Ceuma, recomeçando do zero, sentido-me um pobre diabo, sozinho, atrasado, culpando-me por erros do passado. Exigi muito de mim, pois almejava provar, principalmente para os outros – sei que isso foi um erro – que eu era capaz de ser exitoso no curso de direito. Assim, muitos foram os percalços que passei nessa