Breves considerações sobre "Da democracia na América", do autor Alexis Tocqueville.

 


Inicialmente, é oportuno traçar breves considerações sobre o autor Alexis Tocqueville, destacando suas origens e o contexto histórico em que ele redigiu a “Democracia na América”, como sendo uma forma de melhor compreensão daquilo que se almeja responder.

Tendo sido um historiador e  analista político francês, Tocqueville era de origem nobre, oriundo de família aristocrática que foi favorecida pelo reinado dos Bourbon, e que sobrevivera às intempéries da Revolução Francesa,  tendo sua família sido exilada junto  com o rei Carlos X, na Inglaterra, logo após a Revolução de Julho de 1830, que havia posto fim às intenções conservadoras do Congresso de Viena – surgidas no pós-guerras napoleônicas; tendo Tocqueville permanecido na França.

Assim, o então jovem Tocqueville, a mando do governo francês, recebeu a missão de viajar até os Estados Unidos junto com Gustave de Beaumont, para avaliar o sistema prisional da jovem nação estadunidense. Foi nesse contexto, que o historiador francês elaborou não só um relatório, como também traçou uma apurada análise político-ideológica daquilo que viu na sociedade americana, servindo tal análise de paradigma até os dias correntes para as ciências sociais.

Durante o período em que permaneceu nos Estados Unidos, Tocqueville debruçou-se sobre as origens da jovem democracia americana, perscrutando a sua gênese de acordo com o processo migratório dos puritanos ingleses da metrópole – Inglaterra – para a nascente colônia ao norte, na Nova Inglaterra, analisando as organizações locais que lá se estabeleceram, tais como as comunas, para depois ir traçando um panorama a respeito da organização  federalista e das instituições dos três poderes – Judiciário, Executivo e Legislativo.

Nesse ponto, Tocqueville percebeu os vícios e virtudes da então recente experiência democrática americana. Para o autor, a democracia seria inevitável, de modo que o que ocorrera nos Estados Unidos iria se espraiar para a Europa e para o mundo. Segundo o historiador francês, nesse processo haveriam alguns que vislumbrariam a democracia mais como um acidente, e nesse ponto, buscariam detê-la, enquanto outros a julgariam como algo irresistível, como sendo algo mais contínuo e antigo na história humana.

Portanto, ao conceber a “Democracia na América”, Tocqueville buscou pintar um quadro que representasse a influência que a igualdade de condições e o governo da democracia iriam exercer sobre a sociedade civil, os hábitos, as ideias e os costumes daquele povo.

Nessa esteira, a democracia e as instituições políticas, vistas a partir da análise tocquevilleana, deveriam ser entendidas a partir da valorização que o autor conferiu sobre a liberdade política – aqui cabe pontuar que o pensador francês separou as noções de liberdade e de igualdade.

Para Tocqueville, a democracia nos Estados Unidos favoreceria tanto a liberdade – aqui compreendida mais como uma moral cristã, no sentido de respeito a valores sólidos – como o igualitarismo, o que seria algo potencialmente perigoso, porquanto o igualitarismo teria a tendência de nivelar todos, fortalecendo o individualismo, o egoísmo e o hedonismo, fazendo com que as pessoas vendessem sua liberdade – autonomia – para o governo.

Destarte, nota-se que Tocqueville atentou para as possibilidades do florescimento do germe da tirania no âmago da sociedade democrática americana, haja vista que ele notou a tendência de cada vez mais as pessoas abrirem mão de sua liberdade para o fortalecimento do governo, sob o argumento de interesse da maioria, o que acarretaria num despotismo das massas ou uma “tirania da maioria”, sob o pretexto de busca de uma igualdade – igualitarismo.

Percebe-se que a análise de Tocqueville sobre a até então recente e inédita experiência democrática americana, repousa sobre um certo tom de alerta a respeito da possibilidade do florescimento de uma espécie de despotismo que as nações democráticas deveriam temer.

Melhor dito, ainda que de modo raro e passageiro, os governos democráticos poderiam se tornar, segundo o autor, violentos e até mesmo cruéis em momentos de efervescência das paixões.

Assim, uma nova forma de opressão poderia ameaçar os povos democráticos, indo muito além das palavras “tirania” e “despotismo”, sendo antes de tudo uma tendência a surgir um imenso poder apto a tutelar e a garantir sozinho todos o deleites e o seu próprio destino, a partir da destituição do livre-arbítrio dos cidadãos tutelados sob o seu julgo.

Sob o pretexto de alcançar uma igualdade para todos, a maioria, por meio da soberania do povo, criariam um simulacro em que os cidadãos, consolados por estarem sob a tutela de um poder superior que eles mesmos teriam escolhidos pelo voto, acabariam por sucumbir ante duas paixões paradoxais: a necessidade de ser conduzidos e o desejo de permanecer livres, sendo o último, gradualmente sobrepujado por um suposto despotismo administrativo.

Assim sendo, surgiriam e se multiplicariam os cidadãos atomizados, que buscariam apenas os seus interesses no âmbito de suas esferas individuais, tendo sucumbido a ilusão de que teriam escolhido os seus tutores, aptos a suprirem suas necessidades, não importando terem estes últimos extirpado a sua liberdade.

Nesse ponto, nota-se que, para Tocqueville, a igualdade deveria estar em consonância com a busca dos homens por instituições livres, o que justificaria o sucesso da democracia a partir de uma ideia de que o Poder Legislativo – poder em que os seu representantes teriam mandatos curtos, mas com consequências duradouras, tais como a promulgação de leis que perdurariam para além dos seus mandatos, ao contrário do que ocorreria no socialismo.

Sob o socialismo, a noção de igualdade tenderia muito mais a se deturpar em um igualitarismo, o que, conforme dito alhures, tolheria o arbítrio dos cidadãos governados em busca de uma maior comodidade daquilo que o Estado ou o governo central determinaria como o melhor para os seus tutelados.

Nesse ponto, percebe-se que, de modo clarividente, e com análise apurada, Tocqueville anteviu a experiência socialista, no século seguinte,  no Leste Europeu, onde, guardadas as devidas proporções, viu-se a centralização do poder em busca de uma suposta busca pela igualdade para todos, mas que, em verdade, ocasionou em regimes totalitários em que os cidadãos tornam-se indivíduos atomizados.

 

 





 

Comentários

  1. Coin Casino: Play for Real Money with no Deposit Bonus
    A free online casino with no deposit bonuses. 코인카지노 회원가입 Win real money playing online slots with real money. Claim free bonuses today. No Deposit Required.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A abolição do Homem. C.S. Lewis. - Aforismos extraídos do livro.

Dostoiévski e o "ser original".

Escritos sobre Direito Canônico.