Mar Português: uma análise sobre o imaginário expansionista português e o processo de cristianização do oceano.
Nota Introdutória.
Nas linhas subsequentes notar-se-á que - na organização e no estilo da escrita -, há um perfil de artigo científico no corpo do texto em questão. Pois bem, ao leitor resta explanar que tais linhas, ou, melhor dizendo, tais divagações são provenientes da leitura das teses do célebre historiador Charles Boxer, na sua magistral obra O Império Marítimo Português, assim como também há ideias do historiador lusitano Luis Krus, no seu artigo O imaginário português e os medos do mar.
Dito isso, espero que o leitor aprecie o conteúdo do texto.
1
– O Mar intempestivo.
“Ao difundir as notícias de como o Atlântico
conservava em si graças e tesouros que incluíam templos, relíquias e o próprio
Paraíso, os clérigos letrados libertavam suspeitas sobre os fundamentos
religiosos e morais seguidos pelas comunidades que com ele estreitamente se
relacionavam e elaboravam doutrina apta a enquadrar e apoiar as navegações e as
rotas comerciais oceânicas.”[1]
“Quando, em 1415, os barcos da armada portuguesa que
se dirigiam a Ceuta amainaram as velas ao dobrar o cabo de S. Vicente, em sinal
de respeito e de procura do apoio do santo para a empresa, o país que assim
iniciava as suas Descobertas fazia-o símbolo da possibilidade de dominar e
exorcizar os medos, os receios e os perigos do mar.”[2]
A cristianização
do mar Mediterrâneo e posteriormente o Atlântico, são marcos essenciais para se
entender a empreitada da chamada “era das navegações lusitanas”, assim como
também explicar a vanguarda portuguesa nos projetos de colonização. Um povo que
fez seus anos mais notáveis e rentáveis, baseados nas conquistas ultramarinas,
teve antes, que operar uma significativa mudança nas mentalidades locais; e é
buscando compreender o processo de cristianização do mar – de uma ambiente
caótico e tenebroso para um meio santificado – que serão explanadas a transição
nos discursos clericais a respeito do mar, até meados do séc. XII, de uma
morada inóspita para os bons cristãos, lugar permeado por manifestações
malignas, onde as hostes do Islã transitava, para depois se tornar um reduto cristão,
onde santos aventureiros (São Brandão e Santo Amaro) saíram a conquistar o
desconhecido oceano, e tornando-o um ambiente mais amistoso.
Até 1168, a
cristandade rural e continental portuguesa, com a sua nobreza e clero, viam com
demasiada desconfiança as águas salgadas do mar. Pairava sobre o imaginário
português a ideia de que, povos
mercantis e violentos do Islã, dominavam as fronteiras litorais de Portugal. E
de fato, tais temores eram realmente condizentes com a realidade política que
vinham agitando a costa ibérica. Durante os séculos XII e XIII, as atuais
regiões Sul e Centro de Portugal, estavam sob o domínio dos imperadores
marroquinos, os almorávidas. Portanto, essa situação reforçava a concepção de
violência que vinha do mar. Os saques, destruições e impiedades, eram
atribuições de uma carga valorativa negativa, e que eram diretamente atribuídas
as águas mediterrâneas.
Durante o século
XII, num período em que Portugal vivenciava a idade média, transitavam
registros clericais em que, o mar era representado como o palco de batalhas,
nas quais, a famosa hagiografia de 1168 de S. Teotónio, descrevia um embate
entre o santo e as forças perniciosas do mar, numa defesa da cidade de Coimbra;
culminando na vitória do santo, e extirpando assim, a cristandade continental
do caótico mar, e de suas forças sobrenaturais apocalípticas.
1.2
– 1147: A ocupação de Lisboa pelos portugueses.
Até antes da
retomada de Lisboa pelos portugueses, o mar ainda carregava uma conotação
negativa. Uma grande parcela da população continental lusitana via-o com
desconfiança e temor – um lugar de origem das expedições punitivas lideradas
pelos infiéis muçulmanos contra a cristandade – , tendo sempre uma ressalva
fomentada pelos discursos e pregações do clero. Somente nas comunidades, e nas
vilas de camponeses-pescadores, próximas do litoral Atlântico que o mundo
marítimo era tido como algo distinto da noção cristã de reduto de malícia, em
grande parte, resultante da relação de subsistência do oceano (pesca e extração
de sal). Nesses locais, prevalecia especialmente na costa de Lisboa, a noção de
mar, enquanto “desafio à aventura capaz de trazer fama, conhecimento, proveito
e riqueza” nas palavras de Luis Krus.
Portanto, o
contato de duas culturas tão distintas – o Islã urbano e mercantil, e Portugal
medieval –, possibilitou que os cristãos tivessem contato com as memórias
muçulmanas de uma Lisboa recém-conquistada, que vivenciara um passado próspero
devido a sua exploração dos benefícios do até então, mar malicioso e reduto de forças
sobrenaturais. A constatação dos benefícios oriundos do empreendimento marítimo
– dos tempos do domínio do Islã; foi a fagulha inicial na alteração de uma
mentalidade a respeito do oceano. À partir de agora, as águas salgadas seriam
repensadas de acordo com o resgate de hagiografias, cartografias, que até então
tinham permanecido ocultas numa Lisboa árabe. Dando-se início ao
rompimento-transição, de um mar medieval para uma visão moderna, que prepararia
as mentalidades para a futura alavancada na vanguarda portuguesa de navegação.
O mar passa a sofrer um processo de cristianização. Irá assumir uma conotação
de fonte de prosperidade e riquezas.
1.3
– A Cristianização do oceano.
Fora dito
anteriormente sobre o resgate de relatos de viajantes marítimos. Desses, os
relatos de santos navegantes, e das suas viagens transcendentais no além do
mundo conhecido, atuando muitas vezes como os pioneiros na conversão de novas
terras e dos gentios, em seus relatos. Passa a haver uma alteração na mudança
dos clérigos letrados, em especial, os do Sul de Portugal que veem nos relatos
desses santos, um modo de emancipar as mentalidades de seu rebanho, da
figuração medieval de um oceano tenebroso e caótico. Com as hagiografias de
santos como São Brandão, e tantas outras, que muitas vezes figuravam a
hibridação de relatos da antiguidade greco-latina (A Odisséia), e mitos
arturianos. O imaginário português sobre o oceano surge de uma miscelânea de
narrativas de santos, que deixavam relíquias em ilhas perdidas, buscas pelo paraíso
em terra, extirpando gradativamente do oceano os seus malefícios.
Tal mudança de
mentalidade trouxe uma retomada, e adaptação dos conhecimentos náuticos
herdados dos registros de navegação romano, celta e muçulmano. As igrejas
passam a assumir temas marítimos em suas representações sacras, além do resgate
do “peixe”, o principal símbolo cristológico. Os bestiários clássicos sofrerão
um reajuste condizente com os anseios de evangelização. A figura da sereia será
o exemplo mais explicito de tais reajustes. De símbolo pecaminoso que ela tinha
na antiguidade, ela surgirá cristianizada, “a ser assim na escultura lusa, a
mulher-sereia conota-se mais com Maria
do que com Eva, mais com a graça a conservar do que com o pecado a repelir.”,
nas palavras de Luis Krus, pág.101.
Mesmo com a
tomada de várias medidas para neutralizar as forças malignas dos mares
Mediterrâneo e Atlântico, convertendo-os em um “elemento natural, familiar e
sereno”, como disse Luis Krus, nem tudo isso foi o bastante para arrancar do
mar o seu caráter imprevisível, indiferente e letal. Ora, até meados do século
XIV, a Cristandade Hispânica e Lusitana, tinha as suas cidades portuárias ainda
à mercê de expedições marroquinas de pirataria. Sem contar, que as tempestades
e naufrágios, ainda expressavam a força da natureza – um aspecto nunca “domado”.
Essas constantes reviravoltas externam um caráter ainda latente no “mar”, um
meio belicoso e impetuoso, onde o imaginário de escatologia e juízo final,
coexistiam com o processo de cristianização marítima. Ainda que pairasse um
discurso de anexação e conciliação da vida e prática marítima, sob uma ótica
cristã, isto é, ao cotidiano religioso; o mar continuava mantendo perigos
somente capazes de ser extirpados por seres celestes. Caberia aos santos, o
papel de ser o principal baluarte da cristandade frente às hostes do Islã, e
tantas outras adversidades oriundas do mar.
“Em suma, um santo que superara os medos, os
terrores e as tragédias de todos os mares e que, grato à divina providência,
escolhera o Atlântico para última e santa escala terrena. Ou seja, em última
análise, um pioneiro de uma pré-anunciada colonização cristã do oceano.”[3]
Vimos como se
deu início o processo de mudança nas mentalidades quanto ao modo de ser ver o
“mar”. No caso de Portugal, um povo que almejava empreender planos de conquista
para além das longínquas fronteiras de águas salgadas. Somente com o domínio,
ou então a coexistência com os antagonismos dos oceanos, poderia haver a
empreitada ultramarina lusitana com êxito. Sendo o objetivo principal desse
ensaio, o de destacar ao papel primordial do “mar”, naquilo que seria o
prelúdio da “Era das Navegações”; é deveras importante também falar do papel
dos santos. Os patronos, a quem os portugueses recorriam para afastar
tempestades, salvar-se de naufrágios, e aniquilar os inimigos.
Entre as
comunidades costeiras, era corriqueiro verem-se barcos de pesca ou comércio que
trouxessem na proa, o nome de Santelmo, um santo conhecido por ter realizado
milagres em prol das comunidades pescadoras e portuárias. Assim como Santelmo
era cultuado no Portugal litoral, São Cristovão, também exemplifica o caso das
devoções a santos específicos, quanto às suas funções. No caso de São
Cristovão, este era o protetor dos caminhos, dos viajantes, atuando também como
protetor dos marinheiros. Esses santos figuram como os santos possuíam um papel
essencial na base das mentalidades dos marinheiros. Os santos eram vistos como
os primeiros navegantes de águas estranhas. Um porto seguro aos tormentos que o
oceano pudesse infligir aos marinheiros. Entretanto, suas funções desempenhadas
iam muito além do simples papel de proteger os cristãos das intempéries
naturais de águas revoltas. Aqui, vale ressaltar o já anteriormente dito papel
que estes desempenhavam de ser “os principais baluartes contras as hostes do
Islã”. Quando digo isso, quero explanar a existência de santos cuja devoção era
voltada para fins belicosos – e aqui, cito S. Tiago e S. Vicente. Esses santos
eram capazes de conferir resistência e proteção contra as embarcações
muçulmanas. S. Tiago, “patrono das cruzadas peninsulares contra o Islã e
apóstolo tutelar de uma das principais ordens religiosas militares hispânicas,
a de Santiago da Espada”, na análise de Luís Krus, ilustra bem os motivos que
levavam seus devotos a recorrê-lo.
As mentalidades
enquanto forma de coesão, e identidade de um povo, podem estar relacionadas
diretamente com a religiosidade. No caso das navegações portuguesas, e sua
gradativa conquista do mar; foi determinante a pregação de um discurso
clerical, que atrelasse ao oceano, uma carga positiva. Entretanto, existia uma
miríade de aspectos ainda discutíveis, que tentam explicar o êxito lusitano. A
existência do império de Preste João, um soberano de um reino esquecido no
fantástico oriente, e que atuaria como aliado dos cristãos contra os mouros,
ainda é um reflexo bem visível do imaginário medieval – nunca extinguido na
mentalidade dos marinheiros e viajantes, persistindo até os tempos de Dom João.
2.
O império marítimo português: a tomada de Ceuta, em 1415
Atribuir ao
ardor de um sentimento de “cruzadas” todo o sucesso ibérico nas navegações, e a
colonização de outros territórios, seria uma maneira simplista. Dentre os
aspectos implícitos que tentam explicar o êxito português, têm-se, grosso modo, questões religiosas
(imaginário), questões econômicas, estratégicas, e políticas.
O prelúdio da
atividade exploratória e conquistadora lusitana, certamente pode ser
representado por três acontecimentos paradigmáticos: a conquista da ilha de
Ceuta, a simultânea descoberta das ilhas da Madeira (1419) e dos Açores (1439);
e ilha do Cabo Verde (1456-60). A anexação dessas ilhas seria um “ensaio
geral”. Ceuta era um centro comercial próspero, assim como um importante porto
final do comércio transaariano do ouro – sendo economicamente um ponto
estratégico para o empreendimento lusitano. Já quanto às outras ilhas, estas
possibilitaram a prática da colonização ultramarina – que mais tarde seria
adaptada e utilizada na América. Do período entre 1415 a 1456, pode-se inferir
que ouve uma grande acumulação de conhecimento, e aperfeiçoamento das práticas
náuticas – os portugueses descobriram as rotas de ar do Atlântico, e
descobriram as caravelas, que seriam usadas com velas latinas, consequentemente
deixando as embarcações mais versáteis aos ventos marinhos. Portanto, é deveras
interessante, ressaltar o papel inicial que a descoberta, e tomada dessas
ilhas, acabou possibilitando a dilatação dos horizontes do reino português, até
então engatinhando nas práticas de navegação a mar aberto.
O infante do
Henrique foi o responsável por grande parte do empreendimento marítimo de
Portugal em sua fase inicial. Entre as suas aspirações expansionistas, a
petição de bulas papais que permitissem as medidas da Coroa portuguesas ficarem
isentas de uma sanção religiosa da Igreja Católica, foi indubitavelmente um
exemplo, de como um imaginário pode se projetar em questões de cunho político,
pois, dom Henrique apresentava-se como um estandarte de pregação dos ideais da
cristandade em terras hostis. No caso, a Igreja deu o aval, e permitiu a
exclusividade portuguesa sobre as descobertas, e conquistas comerciais oriundas
do oceano. As cláusulas presentes nessas bulas, também nortearam a postura
posteriormente assumida pela Cora Portuguesa em suas colônias – e aqui, essa
postura significa a ideia de raças inferiores, e sujeitas a dominação
inescrupulosa da metrópole.
As três bulas
papais com maior relevância, seriam: Dum
diversas, de 1452; a Romanus Pontifex,
de 1544; e a Inter caetera, de 1456.
A primeira apresenta um teor mais belicoso, pois permite que Portugal lute, e
captures os bens sob influência das hostes dos sarracenos, e outros pagãos. A
segunda, que seria denominada a “carta do imperialismo” português, foi a que
reconheceu o “zelo apostólico” do infante dom Henrique, assim como também deu o
aval para a Coroa de Portugal submeter, e converter os territórios do Marrocos
e as Índias, que porventura estivessem sob a égide do Islã.
Ora, tais
cláusulas possibilitaram – sob uma jurisdição espiritual – a legitimidade das
mais diversas medidas tomadas, e adotadas pela Coroa portuguesa nas suas
futuras colônias, como estabeleceram as diretrizes das pretensões exclusivistas
de Portugal – as demais nações estariam alienadas das conquistas efetivadas
pelos portugueses. Implicitamente, tais medidas salvaguardas pelo papa,
refletem implicitamente a esquematização, e planejamento da iniciativa de
vanguarda de uma nação que almeja conquistar não só rotas comerciais, mas
também dominar novos territórios, e os seus povos. Daí o por que analisar a
importância desses documentos expedidos pela Santa Sé Apostólica.
Aproximadamente
em 1445, foi construído uma fortificação – estrutura amplamente usada mais
tarde pelos portugueses na América – , isto é, uma feitoria em Arguim. Esta
seria uma iniciativa da Coroa portuguesa de tentar controlar o comércio
transaariano do Sudão ocidental; ressaltando que, em 1442, os portugueses já
vinham aprimorando, e esquematizando o comércio de escravos, pois este era um
meio de financiar o projeto das viagens ao longo da costa ocidental africana –
inicialmente, Portugal atacara aldeias negras do Senegal, e acampamentos
tuaregues no litoral saariano, entretanto, ao perceber que fomentar as guerras
intertribais (acentuado um estado de violência) era uma medida mais efetiva,
para obtenção de escravos, Portugal acabara assim, adotando uma postura de
negociação com os líderes africanos.
Ainda sob o
governo do infante dom Henrique, os frutos provenientes da empreitada na África
ocidental, começaram a aparecer nos portos de Portugal – ouro, escravos e
marfim, chegavam abundantemente. Portanto, nota-se, que dom Henrique,
desempenhou um importante papel nessa fase inicial das expedições exploratórias
lusitanas, pois, seu espírito empreendedor, possibilitou um desbravamento do
“mar” até então hostil, e incógnito. Todavia, o entusiasmo do infante dom
Henrique não conseguiu extinguir as dívidas da dispendiosa corte portuguesa –
os gastos com a vida palaciana – , mesmo detendo o monopólio do sabão e da
pesca; mas sua iniciativa acabou abrindo caminho para as futuras expedições de
seu sucessor: Dom João.
“Dom João, o príncipe perfeito, foi um imperialista
entusiasmado e de vistas largas, que nutria verdadeira paixão pela África e
seus produtos, fossem de natureza humana, animal, vegetal ou mineral. Com
perspicácia, se interessou pessoalmente pela direção do comércio, reservando
para a Coroa o monopólio da importação de ouro, escravos, especiarias e marfim,
e da exportação de cavalos, tapetes, produtos têxteis ingleses e irlandeses.”[4]
No período do
governo de dom João, a Coroa concedeu determinados direitos de importação ao
comércio de iniciativa privada (importar artigos menos valorosos como:
papagaios, algodão e ráfia), deixando o comércio do ouro sob a (teoricamente)
rigorosa inspeção do monopólio da Coroa. Também no governo de dom João,
Portugal intensificou a exploração de artigos provenientes da costa da África,
atuando num mecanismo de trocas de mercadorias tais como: tecidos
manufaturados, utensílios de latão, etc.; para receber por meio destes, o
cobiçado ouro. Um fato importante do próspero comércio com as tribos africanas
da costa, foi a gradual inserção do ouro proveniente dessas relações – o ouro
da Guiné, que chegava nos portos de Portugal, acabou possibilitando a inserção
do reino de dom João no mapa da circulação monetária da Europa.
Há uma transição
entre o modo como o comércio português, antes e depois da construção do forte
da Mina, em janeiro de 1482. Antes dessa paradigmática construção, os
portugueses se dirigiam até a costa africana como marinheiros rudes, maltrapilhos,
que permaneciam pouco tempo entre os nativos africanos, pois, tinham apenas o
intuito de trocar as mercadorias trazidas por qualquer coisa oferecida pelos
africanos. Desciam de suas caravelas com anseio de negociar o mais breve
possível, e logo retornar para Portugal. No entanto, como dito, a construção do
forte da Mina, representa uma mudança na relação dos portugueses com as tribos
africanas. Com a crescente obtenção do ouro, Portugal viu a necessidade de se
criar fortes capazes de armazenar e proteger suas mercadorias das atividades de
piratas, ou então, das possíveis hostilidades dos chefes tribais africanos.
Havia a possibilidade de uma oscilação das relações entre os chefes africanos,
que vendiam escravos e ouro aos portugueses, assim como nem sempre o trabalho
dos tangos-maos, ou lançados – e aqui, vale lembrar que,
essas eram denominações dadas aos portugueses que internalizavam os costumes
dos povos africanos – de intermediar as relações comerciais fosse sempre
efetivo.
Sendo assim, as
providências de edificar os fortes da Mina (1482) e de Axim (1503) tomadas por
dom João, mostra o anseio de monopolizar o comércio ultramarino de ouro na
costa da África ocidental. Dada a crescente e próspera aquisição de riquezas
aos cofres da Coroa portuguesa, coube a etapa seguinte, a busca de Preste João
– um reino cristão perdido, situado entre a África e a Índia média – segundo a
cartografia da época conjeturava. Segundo um apontamento de Charles Boxer, foi
durante o reinado de dom João II, que a procura do Preste João foi mesclada com
uma busca por especiarias asiáticas. Ora, sendo Preste João um monarca cristão,
de um reino extraviado, este quando descoberto, seria um facilitador para os
portugueses contra as hostes dos infiéis, assim como um aliado geográfico
contra o monopólio genovês-mameluco de artigos do oriente. Portanto, as
expedições financiadas pelo rei dom João, externam claramente como a audaciosa
viagem de Bartolomeu Dias rumo ao Cabo das Tormentas (14880 – depois seria Cabo
da Boa Esperança – significava a tentativa de Portugal romper as limitações das
principais rotas comerciais, até então, sob o domínio dos italianos. Percebe-se
como a força proveniente de um imaginário, desde a transição do medo para o
enfrentamento do mar, como a busca pelo ouro idealizado de Preste João, moveram, ainda que sutilmente, os projetos
engendrados e empreendidos pelos monarcas de Portugal. Muito além do ouro
oriundo da África, dom João II, cobiçava as terras perdidas de Preste João –
projeção do imaginário que se confundia com: as riquezas acumuladas do comércio
ultramarino e o imaginário cristão.
O ensaio
discorreu essencialmente sobre dois pilares de estudo: o primeiro tratando de
uma história das mentalidades, enquanto a segunda parte tratou mais especificamente
do império ultramarino lusitano em sua gênese. Foi abordada a transição do modo
como se via o “mar”, e também, os impulsos dos reis portugueses rumo às terras
longínquas. Logo, partindo do pressuposto de que, o oceano foi o palco de uma movimentação
não só de embarcações exploratórias, infere-se na audácia do povo ibérico –
naquilo que a historiografia tradicional denominaria “Era dos Descobrimentos.”
Referencial
bibliográfico.
KRUS, Luis. O imaginário português e os medos do mar.
In: NOVAIS, Adauto (org). A Descoberta do Homem e do Mundo. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998, pp. 95-105
Boxer, Charles. O império marítimo português
1415-1825/Charles Boxer; tradução Anna Olga de Barros Barreto. – São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.
[1]
KRUS, Luis. “O imaginário português e os medos do mar”. In: NOVAES, Adauto
(Org). A Descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998,
p. 100.
[2] Idem, p. 105.
[3] Idem, p. 102.
[4]
BOXER, Charles R. O império marítimo português 1415-1825. Tradução por Anna
Olga de Barros Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 45.
O que se vê é quando o homem moderno europeu rompeu com o seu também,mito da caverna,deu-se através de uma concepção religiosa a pungente necessidade dos povos ibéricos de expansão dos seus domínios foi logo com a assimilação de conhecimento dos maiores dominadores recentes os romanos e os muçulmanos,e assim se lançaram para as conquistas que conhecermos.
ResponderExcluirComo a História nos tem a revelar, se como bem explica o artigo, no início os povos dominadores recorreram ao sobrenatural para concretizarem seus objetivos expansionistas, primeiramente, se apegaram aos seus respectivos dogmas e se lançaram mar adentro (Odin, Thor, Jesus Cristo, Ala etc.), lá atrás, começaram sobretudo, impor a qualquer custo suas conotações de fé como dominação dos gentios, daí começaram os conflitos e choques de idéias, que repercutem até hoje, assim, com a devida vênia, ouso, classificar a humanidade por faixas etárias, se no princípio se portou como uma criança, por vezes mimada,a partir de suas orientações religiosas (deuses olimpianos, escandinavos e celestiais),atualmente, a humanidade encontrar-se na fase da adolescência, devido os conflitos de hoje, evidencia que ainda é incapaz de superar suas formas diferentes de dominação e, que para chegar a fase adulta, um longo caminho ainda, precisará ser percorrido.
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