Machado de Assis escreveu que “o menino é o pai do homem”. Pois bem, interpreto essa frase como a ideia de que na criança ou no adolescente, há o germe do que será o homem adulto. São nesses anos de formação, que se absorvem as experiências, os traumas etc. Lembro que eu comecei a me sentir um adolescente lá pela quinta série. Na época eu estudava no Colégio D. Pedro II, uma escola de bairro, na Cohama. No começo dos anos 2000, era uma escola de classe média baixa, era como se fosse um Reino Infantil ou Crescimento acessível para os filhos e filhas da classe média emergente. Estudava de manhã, na realidade, sempre estudei no período matutino, pois segundo minha avó materna, em sua visão de pedagoga aposentada, era o melhor horário para assimilar o conhecimento ensinado em sala de aula. Especulações à parte, foi na quinta série que eu comecei a me interessar por aranhas. Não consigo entender como exatamente surgiu esse interesse pelos aracnídeos, mas foi um tempo em que eu foquei em estudar ciências, e os artrópodes, em especial as aranhas, suscitaram um interesse específico em mim. Meu vizinho e colega de escola, Rodrigo, foi outro que entrou nesse interesse por aracnídeos. Eu tive a ideia de capturar aranhas no jardim de casa, e enclausurá-las em potes vazios de maionese. Mais tarde, comecei a recrutar Rodrigo para essas funções. Íamos nos canteiros da escola buscar aranhas dos mais variados tipos. Eu tinha o costume de alimentá-las com moscas que eu capturava em potes de plástico, depois as transferia para os potes em que estavam as aranhas. Os professores passaram a notar nosso interesse repentino por aranhas quando passamos a deixar os potes na carteira escolar. Waldir, professor de matemática, certa vez disse: - Isso é uma aranha mesmo? – e deu um riso do canto da boca, como quem achasse crianças excêntricas. - Sim – eu disse – enquanto virava o pote com o lado em que a aranha estivesse aparecendo. O problema é que quando você começa a manusear animais exóticos como aranhas, é bem capaz de acontecer algum acidente. Lembro que eu havia capturado uma aranha marrom na casa do meu primo, e levei-a num pote para escola. No final das aulas, enquanto esperávamos os nosso responsáveis virem nos buscar, deixei o pote com a aranha marrom sob a tutela de um colega, o João Ricardo, e sai para ir brincar. Quando voltei para pegar o pote, vi que João Ricardo havia sido picado pela aranha. Ele disse que tinha aberto o pote para mostrar a aranha para outros colegas, mas não sabia que o aracnídeo estava na tampa do pote, escondida. Dito e feito, após abrir o pote, a aranha correu e picou na sua mão. Então, eu com o meu conhecimento de leituras de revista Recreio e livro de ciência da escola, disse que era melhor João Ricardo sugar o ponto da ferida. No outro dia, ele apareceu com a mão meio inchada, se era realmente uma aranha marrom, eu não sei, no entanto, após esse episódio, lembro que o meu interesse por aranhas foi diminuindo...

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